sábado, 26 de abril de 2008

Edson Oliveira


Ele tem 37 anos, é casado e atualmete mora em São Paulo. Saiu de casa há alguns anos atrás, em busca de outros desafios. Já trabalhou como gerente em uma grande empresa, mais o seu lado artístico sempre predominou. Hoje ele é um conceituado Consultor de Treinamento e Psicodramatista e faz alquilo que mais gosta e acredita: trabalha com pessoas. Seu nome: Edson de Oliveira, ator, diretor, escritor e nosso primeiro entrevistado.



Como começou sua historia com o teatro???
Tudo começou com meu irmão Edinaldo Oliveira. Ele fez parte do grupo TAC – Teatro de Amadores do Cabo, ainda nas décadas de 70/80 e fez uma peça intitulada “O Sapateiro de Rei” e claro que em algumas de suas apresentações participei como expectador, confesso que me encantei pela possibilidade de ver atores/pessoas dando “vidas” a personagens criados pela imaginação do homem e também personagens da vida real.
A partir daí despertou minha curiosidade por esta arte tão fascinante que é a arte de representar. Então, comecei a “bisbilhotar por entre as coxias” os ensaios do meu irmão, nesse tempo, ele tinha fundado juntamente com um amigo, Francisco Alves, um novo grupo na cidade do Cabo: O Grupo da Gente – GRUDAGE que até hoje resiste fazendo história em sua caminhada. E a partir daí fui participando das oficinas teatrais, das colagens de cartazes e pichações nas ruas do Cabo para divulgação das peças que entrariam em cartaz, até que surgiu uma oportunidade para figuração em uma das peças do Grudage. Agarrei com “unhas e dentes” e isso foi o começo de uma longa jornada teatral. Vale salientar, que ainda não existia o Teatro Barreto Júnior do Cabo, fazíamos apresentações nas escolas, associações de bairros e outros espaços alternativos da Cidade do Cabo de Sto Agostinho.




Como é esta longe dos palcos??
É como viver longe das praias cabenses, entende? O que me deixa mais tranqüilo é que trabalho como consultor de treinamento, com palestras, jogos dramáticos e psicodrama sempre estou atuando nos “palcos” das organizações e isso preenche esta lacuna tão importante da minha vida. Aqui em São Paulo já tive a oportunidade de atuar como ator na peça “Um Sanatório para Freud” através do CAAC – Centro de Artes Alternativas e Cidadania, trata-se de ONG que trabalha a reintegração a sociedade de moradores em situação de rua e ex-presidiários a qual faço parte.




Você pretende voltar a dirigir espetáculos e atuar??
Atualmente eu dirijo e atuo em espetáculos nas empresas. Agora, voltar a dirigir e atuar em espetáculos do teatro tradicional, se assim posso chamar, eu não sei...quem sabe...eu... sei lá...eu ADORO TEATRO. As vezes vou muito a teatros aqui em São Paulo, agora não é a mesma coisa, é o mesmo que ir a praia... contemplar a natureza, ouvir os sons do mar, refletir na paisagem, ver aquela maravilhosa iluminação proporcionada pelo sol, os corpos maquiados pelos bronzeadores solares, perceber toda movimentação cênica com tantos atores e atrizes... e não tomar banho.




Quais os projetos futuros??
O principal é voltar para Pernambuco. Esse é um projeto que quando decidi sair do Cabo de Sto Agostinho em 1996 eu já tinha traçado um projeto de vida, que era conhecer outras realidades, estudar e me profissionalizar na área que tinha escolhido pra minha carreira profissional, que era o de trabalhar com pessoas. E graças a Deus e ao meu esforço batalhei e até hoje batalho para conseguir atingir este objetivo. Trabalhei numa empresa que tive a oportunidade de viajar muito e conhecer este “Brasilzão” de tantas culturas e costumes diversificados, que é uma maravilha. Quando morava em Salvador onde passei quatro anos, recebi uma proposta para trabalhar em São Paulo, a principio resisti, mas levado pela possibilidade de poder desfrutar dessa cidade que tanto poderia me desenvolver pessoal e profissionalmente aceitei, porque isso fazia parte desse meu maior projeto, que era a busca desse desenvolvimento para um dia voltar e poder colocar em prática em terras pernambucanas, nordestinas e porque não brasileiras. E estou chegando.


O Cabo era rota de festivais nacionais de teatro hoje não, mas qual o impacto que casou no movimento cênico e na cultura local???
Uma perda muito grande para nossa cultura local. Uma perda no sentido de mostrarmos para esse Brasil o que tínhamos e temos de excelência cultural, como também de conhecermos outras realidades culturais e podermos trocar, debater, conhecer e vivenciar experiências diversas com um povo de sensibilidade, criatividade e que tanto tem pra contar para esse povo brasileiro. E o impacto é de estreitamento ao invés de ampliação. O movimento local agora, precisa ir em busca, coisa que antes além dessa busca, “os movimentos culturais” vinham até o Cabo de Sato Agostinho. E lamentável.


Você participou do primeiro MOCASPE ( MOSTRA CABENSE DE SKETES E POESIA ENCENADAS )como foi ??? E hoje o que você senti ao lembra deste festival????
Com várias sketes. A primeira MOCASPE – Mostra Cabense de Sketes e Poesias Encenadas – foi algo de grande importância na minha vida artística. Foi nela que comecei o exercício de direção e autoria teatral. Na primeira versão, tinham poucos participantes, mas com um número expressivo de sketes. Nesta versão, muitos trabalhos foram dirigidos por mim e por Luiz Navarro para conseguir atender a demanda e servir de atrativo para as próximas versões, e não deu outra. Para a realização contava-se com uma forte equipe de apoio administrativo e logístico do evento, como Ednilson Oliveira entre outros.
Agora dizer o que sinto é um misto de vários sentimentos. Vaidade, alegria e saudade, muita SAUDADE.




Era difícil na sua época fazer teatro no Cabo?????
Sim, muito difícil. A falta de incentivo, de apoio por parte das administrações públicas era o maior desmotivador. Conseguíamos algum apoio, mas não o suficiente para desenvolver um trabalho de tamanha expressão nacional. É, porque nosso trabalho tinha um reconhecimento nacional em festivais, congressos e outros eventos que participávamos. Nós éramos conhecidos como um movimento de resistência nunca de expressão, e por incrível que pareça nós tínhamos EXPRESSÃO SIM. Até para nossos ensaios tínhamos grandes dificuldades para ocupação de espaços. Porém, sempre fomos “Guerreiros”.




E o GRUDAGE???? o que este grupo representou ou representa para você????
Pra você ter uma idéia, eu costumo dizer que o profissional que sou hoje, devo muito ao teatro, pela desenvoltura e articulação que me proporcionou. E o Grudage me deu estrutura e foi também o disparador para o trabalho que desenvolvo. Minha especialidade é trabalhar com pessoas, procurando contribuir na sua formação e desenvolvimento pessoal, bem como profissional. O grudage foi fundamental na minha vida.


Como foi fazer teatro na Igreja????
Foi uma “loucura”. Era assim que era conhecido na igreja, pelas minhas encenações um tanto quanto “malucas”, assim comentavam os expectadores. No entanto, o grupo que fazia as apresentações comungavam dessas “maluquices” e eu não estava sozinho. Tudo começou no grupo UJCF – União da Juventude Cristã Franciscana, a convite de um dos integrantes e na oportunidade fui solicitado para dirigir uma peça sobre a vida de São Francisco de Assis de autoria de Edna Barros, a quem hoje sou eternamente grato pela oportunidade de ter conhecido uma pessoa com uma história tão exemplar como Francisco de Assis. Daí em diante criamos o grupo “Os Fominhas de Deus” que tinha o intuito de dramatizar evangelhos, campanha da fraternidade e tínhamos um trabalho social nas periferias do Cabo, com arrecadação de donativos no comércio e residências locais e transferir para a população mais carente, carente não, miserável.
Fazer teatro na igreja valeu como exercício e ampliou meus horizontes com possibilidade de levar o teatro à população menos favorecida.


Como você ver hoje o movimento teatral no Cabo ???
Com muita dó. Não pelas pessoas que fazem o movimento, que são pessoas de garra, muita força de vontade e de muito conhecimento, no entanto, não encontram espaço para poder desenvolver esta tão nobre arte e que pode transformar “...”.
No Cabo de Sto agostinho, acreditem, temos excelentes artistas, com grandes potenciais, artistas que estão iniciando carreira, pessoas anônimas que incentivam esta arte. O que realmente falta é um apoio digno, um apoio a altura desses artistas que só querem desenvolver seus talentos e poder contribuir para um mundo melhor. Precisa-se de pessoas que no mínimo sejam sensíveis a luta de artistas/guerreiros. Quantas pessoas largaram, abandonaram “o barco”, uns porque cansaram, outros porque precisavam sobreviver, pessoas que se angustiaram e partiram para outras “praias” deixando de lado muitos sonhos não realizados, mas que precisavam trilhar outros caminhos em outras regiões do país e quando não do mundo.
Artistas Cabenses, não desistam, vão enfrente, sejam fortes e destemidos acreditem em vocês, nas pessoas e no mundo, sonhem alto, realizem alto e queiram cada vez mais, com humildade e honestidade com bondade e força. MUITA FORÇA. Eu desejo muita “Merda” pra vocês.
Edson Oliveira
Consultor de Treinamento, Psicodramatista e MBA em Recursos Humanos – Atualmente morando em São Paulo – Capital.
(Artista cabense há 10 anos longe das praias pernambucanas que tanto se banhou)

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