sábado, 4 de outubro de 2008

Manuel Pereira de Araújo.


Manuel Pereira de Araújo, você conhece ou já ouviu falar dele?Você sabe o que ele representou para música nordestina?Amigo, se você gosta de musica, e não tem respostas para as perguntas acima, só justifica dizer que o povo brasileiro realmente não tem memória.Ainda mais agora, que as rádios comercias, que são mais escutadas do Recife, sofrem de diarréia mental, levando assim, as rádios ditas como comunitária, que não tem essência a tocarem essa #!%#$*&, que assola nossa querida terra Pernambucana.Então, como escutar ou relembra um ser tão importante como Manezinho?


Manezinho Araújo, nome artístico desse Agostiniano, é a aprova que não temos memória cultural nenhuma, principalmente o povo de Pernambuco, e de sua cidade natal o município do CABO DE SANTO AGOSTINHO. Figurinha carimbada das décadas de 30, 40 e 50 onde foi o primeiro agravar uma embolada. Foi pintor, locutor, jornalista, cantador de embolada e compositor, tudo no seu tempo e na hora certa. Ainda teve tempo de ser administrador de um dos maiores restaurante de comida nordestina do Brasil, o Cabeça Chata, onde na sua inauguração ficou uma semana formando-se fila para entrar. Neste lugar, passaram pessoas importantes como Presidente da Republica ao nortista mais simples. Manezinho Araújo Faleceu em São Paulo em 1993.


Filho da GREAT WESTERN. Manezinho Araújo, era filho de Joventina Pereira de Araújo e de José Brasilino de Araújo, um funcionário que trabalhou durante quarenta anos na ESTRADA DE FERRO pela companhia Great Western, que é a segunda mais antiga do país e foi inaugurada por Dom Pedro II na antiga vila do Cabo no ano de 1858.Agora desfrutem um pouco da História deste filho de nossa cidade, através da leitura extraída das crônicas de Mário Souto Maior.


Crônica:


Manuel Pereira de Araújo, artisticamente conhecido como Manezinho Araújo, nasceu no dia 27 de setembro de 1910 na cidade do Cabo, Pernambuco. Quando jovem, fazia o Curso de Comércio. Foi em Casa Amarela, subúrbio do Recife, que aprendeu a embolar com Severino de Figueiredo Carneiro - Minona (1902-1936) - um dos primeiros divulgadores desse gênero musical sertanejo.Quando rebentou a revolução de 1930, Manezinho Araújo viajou com um contingente do Exército. Quando o navio já se aproximava do Rio de janeiro a revolução terminou com a vitória dos liberais. Mas a tropa seguiu até seu destino. Naquela época Manezinho Araújo já era conhecido como cantor de embolada por seus companheiros de farda. Na volta da tropa para o Recife também viajavam no mesmo navio alguns artistas famosos, entre os quais Carmen Miranda, Almirante, Josué de Barros e outros. Foi, então, organizado um show a bordo e Manezinho Araújo dele também tomou parte, por insistência de seus companheiros de farda. E a participação do desconhecido cantor foi um verdadeiro sucesso; todos gostaram de suas emboladas, gênero musical pouco conhecido. 0 sucesso foi tão grande. Que Josué de Barros prometeu lançá-lo no mundo artístico da então capital do paísTrês anos após, incentivado por seu mestre Minona e amigos, Manezinho Araújo foi tentar a vida no Rio de Janeiro, onde, em novembro de 1933, gravou, em selo Odeon, seu primeiro RPM que tinha de um lado A Minha prantaforma e, do outro, Se eu fosse interventô, duas emboladas de sua autoria, procurando satirizar a política e os políticos da época.


Com o sucesso de seu primeiro disco abriram-se as portas para o jovem cantor pernambucano e vieram outras gravações como Pra onde vai, Valente?, embolada motivada por sua ,ida, como soldado, para a Cidade Maravilhosa durante a revolução de 1930:


Pra onde vai, valente?

Vou pra linha de frente,

Tava na feiraC'a pistola e um cravinote 0 muleque deu um pinote Me chamou mode brigá.

Pego no meu punhá Enfio a faca,

o sangue pula Moleque você não bula Com Mané do Arraiá.

Veio um sordadoC'um boné arrevirado Com dois oio abuticado Que só cachorro do má.

Botou-me a mão Home, me disse, você tá preso E eu fiquei c'um braço teso Na cara lhe quis passá.

Pra vadiá Eu sou caboco bom na briga

Mas só gosto da intriga Quando encontro especiá.

Dedo do Cão Moleque bom no gatilho Se coçou,

eu vi o brilho Atirou pra me pegá.

Ele me atira Eu me abaixo e a bala passa

E fico achando graça Do baque que a bala dá.

Pra onde vai, valente? Vou pra linha de frente.


Todas as composições de Manezinho Araújo, notadamente as emboladas. continuavam a fazer sucesso. Seus discos eram muito vendidos em todo o país e sua música caiu na boca do povo, como também aconteceu com Cuma é o nome dele? e o Caminhão do Coroné.


E Manezinho Araújo, da noite para o dia, passou a ser um cantor popular. Tão popular que em 1936 participou de um filme de Julien Mandel, Maria Bonita, cantando suas emboladas. Sabe-se até que ele foi o primeiro artista brasileiro a gravar jingles no Brasil, como o do sabonete Ufebuoy. E o óleo de Peroba patrocinou algumas de suas numerosas excursões e programas nas difusoras do país.Dando continuidade a esse sucesso tão marcante, Manezinho Araújo prosseguiu sua carreira artística cantando e gravando toadas, cocos e notadamente emboladas, sua especialidade, chegando a ser considerado como Rei da Embotada.A verdade é que depois do sucesso de Manezinho Araújo cantando e gravando suas emboladas e de outros parceiros, alguns compositores passaram também a compor emboladas, gênero musical que exige, do cantor, muito ritmo e fôlego, que nunca faltavam no cantor pernambucano.Nos meados da década de 1950, "a música nordestina passou a ceder lugar a novos ritmos, muitos deles importados. Desapontado com o ambiente artístico e pressentindo o fim de uma época, Manezinho Araújo despediu-se de seu público em 1954. Num espetáculo no Tijuca Tênis clube, lotou o auditório com 15 mil pessoas. Com a renda resultante, montou no Rio um restaurante, o Cabeça Chata, que manteve aberto até 1962, quando se transferiu para São Paulo (2). Em 1960 revelou-se um criativo pintor primitivo. Como proprietário do Cabeça Chata -talvez o primeiro ou um dos primeiros restaurantes a divulgar a culinária regional nordestina - e como pintor primitivo, Manezinho Araújo, desligado da música, continuou a divulgar as comidas e a paisagem social nordestina de Pernambuco, sua terra natal, cantada em Sodade de Pernambuco:


Ai, sodadeEu vou ficar maluco.Ai, sodadeMe leva pra Pernambuco.Quando eu vim de lá do NorteAtrás de vida mió,As moça de PernambucoChoraram de Fazê dó,Dizendo todas: Coitado0 Mané vai dormir só.


No seu programa Gente e Coisas do Nordeste, o escritor, jornalista e radialista paraibano Assis Ângelo, através das ondas da Rádio Atual AM de São Paulo, num programa que foi ao ar no dia 21 de maio de 1995, divulgou uma entrevista que fez com Manezinho Araújo há alguns anos passados ' , entrevista na qual o Rei da Embolada conta um pouco de sua vida, ressaltando a mágoa que tem de sua terra, mágoa que retratou numa composição sua que nunca foi gravada:


Ai, PernambucoTu não te lembras de mim.Que foi que fiz, Pernambuco,Pra me tratares assim.Cantando a minha emboladaFiz versos em teu louvorNão fui candidato -a nadaNão iludi eleitor.0 analfabeto sou euQue analfabeta badernaE a culpa não é só minhaAi, Pernambuco, é mais de quem governa.Se em vez de emboladaFizesse um partido novoSujeito a marmeladaInclusive roubando o povo.Ai, Pernambuco Tu não te lembras de mim.Que foi que fiz, Pernambuco,Pra me tratares assim...


Na referida entrevista Manezinho Araújo contou que quando visitou a Bahia foi recebido 'com festa e quando chegou ao Recife ninguém lhe procurou. E o Rei da Embotada morreu com essa mágoa no peito.Será que ainda está em.tempo de Pernambuco resgatar o valor da arte e o trabalho de Manezinho Araújo, dando-lhe o nome de uma rua(tão bom que fosse em Casa Amarela ... ) ou de uma escola? E a cidade do Cabo também não tinha o dever de prestar uma homenagem ao filho que tanto honrou seu berço natal, divulgando a nossa música e a gostosura de nossa culinária, mostrando em suas telas a paisagem humana, as frutas e as coisas do Nordeste?Nesta estória eu me sinto como o beija-flor que, certa vez, vendo a floresta sendo destruída por um incêndio, batendo suas asinhas delicadas deu não sei quantas viagens trazendo, em seu bico, apenas gotinhas d'água para apagar o fogaréu. Foi quando o Leão, que é o Rei dos Animais, vendo a trabalheira do beija-flor, sorriu e falou:- Você não está vendo, beija-flor, que as gotinhas d'água que você traz no seu bico não são capazes de apagar o incêndio que está destruindo a nossa floresta?- Eu sei, meu rei. As gotinhas d'água não são capazes de apagar o incêndio da floresta. Eu estou fazendo apenas a minha parte, o que posso fazer.E continuou o seu trabalho enquanto força teve.É o que estou fazendo, agora. Apenas a minha parte. 0 que posso fazer.


Pesquisas:

1. SANTOS, Alcino; BARBALHO, Grácio; SEVERIANO, Jairo e AZEVEDO M.A. de. Dicografia Brasileira/ 78 rpm (1902-1964). Rio de Janeiro, 1982.2. Nova História da Música Popular Brasileira: Manezinho Araújo e os nordestinos. São Paulo: Abril Cultural, 1979.3. ÂNGELO, Assis. Gente e Coisas do Nordeste. Programa radiofônico. Rádio Atual, São Paulo, 21 de maio de 1995 2. Fundação Joaquim Nabuco,3. www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/cro_mane.htm/ /www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/msm _prc.htm